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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A viagem da família real ao Norte

Na semana que seguiu ao processo das eleições autárquicas, D.Manuel II iniciou a sua viagem ao Norte do País.

A um domingo, 8 de Novembro, em comboio especial iniciou a viagem em Lisboa vindo a desembarcar na estação de Campanhã, ás duas da tarde. A comitiva era extensa e incluía além da rainha D.Amélia sua mãe, seu irmão D.Afonso porque esta visita ao norte do país, deveria ter sido entendida em primeiro lugar, como uma necessidade de serenar o Pais em torno da casa real, porque havia a noção que os republicanos estavam a ganhar terreno e ameaçavam um golpe de estado a qualquer momento e claro que estava bem presente que a primeira tentativa de revolução republicana tinha acontecido precisamente no Porto a 31 de Janeiro de 1891.



Este pequeno filme, que não conheço a autoria pode ter sido recolhido por Aurélio Paz dos Reis um comerciante e floricultor do Porto pioneiro do cinema em Portugal, que muito embora republicano convicto e maçon, não deixaria por certo passar este acontecimento, sem o registar, caso tivesse oportunidade.

Outro "realizador" possível seria João Freire Correia que registou visitas de dignatários estrangeiros,paradas e exercícios militares, touradas e ócios da família real portuguesa, entre outros filmes.

A visita durou quase um mês, pois o Rei chegaria a Lisboa a 4 de Dezembro, viajando em carruagem fechada por suspeita de eventual atentado.

Entretanto visitara Viana do Castelo, Braga, Guimarães, Santo Tirso Barcelos, Oliveira de Azeméis, Aveiro, Vila Nova de Gaia e Espinho onde esteve a 23 de Novembro inaugurando a linha férrea do Vale do Vouga.


Júlio de Vilhena chefe regenerador esperava em Lisboa a chegada do rei, porque mantinha viva a esperança de vir a chefiar o próximo governo, pelo que logo a 7 de Dezembro em carta dirigida a D. Manuel II, retira o apoio a Ferreira do Amaral e assume-se como candidato à chefia do governo, porque também considerava que a sua candidatura seria a única possíbilidade de manter o partido unido, atendendo ás muitas facções existentes.

Vilhena pintava um quadro negro, alertando que a crise poderia vir a ter como consequência uma intervenção estrangeira.

Luciano de Castro não via com bons olhos a constituição dm governo regenerador, pelo que continuava a apoiar Ferreira de Castro, recomendado a este que reflectisse bem antes de agir.

Ferreira do Amaral não acata essa recomendação e apresenta a demissão colectiva do ministério. O Conselho de Estado então convocado, reuniu no dia 18 de Dezembro, manifestando-se no sentido de D.Manuel II aceitar a demissão desse executivo,iniciando de seguida o Rei consultas para a formação dum novo governo










sábado, 14 de novembro de 2009

Eleições administrativas a 1 de Novembro



As eleições administrativas (hoje conhecidas por autárquicas) decorreram no primeiro domingo de Novembro que aconteceu logo no dia 1

Tal como se previa os republicanos conquistaram a totalidade dos lugares da Câmara de Lisboa, onde não concorreram listas monárquicas, que para o PRP constituía uma flagrante "violação de escrutínio" já que, “grosso modo”, inviabiliza o sentido secreto do voto.

Como fizeram questão de denunciar no jornal A Lucta, "
A cada descarga nos cadernos eleitorais corresponderá uma delação política", pelo que "ao serem entregues no ministério do reino, esses cadernos constituirão verdadeiras listas de proscritos" - facto que, certamente, demoveria muitos cidadãos de participar.

A presidência da Câmara coube a Anselmo Braamcamp Freire (Na foto) tendo como vereadores alguns dos mais destacados membros do Partido Republicano, como Ferreira Alves, Francisco Grandela, Ventura Terra ou Tomás Cabreira.


As eleições aconteceram por todo o país, também com resultados surpreendentes como em Lagos onde o PRP também conseguiu a totalidade dos mandatos que passou a dirigir.

Porém o foco das atenções eram os acontecimentos em Lisboa.


No dia seguinte Ferreira do Amaral escreve ao rei, dando conta dos resultados eleitorais, ao mesmo tempo que demonstrava não ter percebido o que havia acontecido. Dizia ele ao rei que "creio que a causa monárquica, longe de perder, só teve a ganhar com o resultado das eleições" porque acrescentava depois "os republicanos tiveram menos 4.000 votos que nas eleições para deputados".

Na semana seguinte o rei partiria para o Norte, porém a propaganda republicana não parava de crescer e o governo entrava em acentuado declínio ao mesmo tempo que os partidos monárquicos aguardavam a chegada do Rei para a formação doutro Ministério

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A marcação das eleições administrativas


Umas das muitas questões "fracturante" desta época, foi a da realização das eleições municipais em Lisboa, prometidas por Ferreira do Amaral, na sequência da política de acalmação, que se seguira ao regicídio.

Naturalmente que essa eleições eram reclamadas pelo republicanos, conscientes do seu aumento de popularidade na capital, mas repudiados pelos partidos tradicionais.

Em Agosto de 1908, Ferreira do Amaral, comunica o encerramento das Cortes e anuncia que em Novembro, serão realizadas as referidas eleições municipais, o que veio a acentuar a animosidade de Regeneradores e Progressistas, que mesmo sem esse facto, já o acusavam de passividade face aos avanços republicanos.

A estratégia política de bastidores era assaz complicada. se por um lado os partidos monárquicos não queriam perder o pé nessa acusação de tolerância aos republicanos, também lhes interessava que Ferreira do Amaral não se demitisse e que o equilíbrio de poderes entres ambos, viesse a desfazer-se e a tombar para o campo inimigo, ou, pior ainda, para algum dos rivais das respectivas lideranças.

Foi complicada a querela entre Ferreira do Amaral e Luciano de Castro, já que o chefe do governo, pretendia negociar com os republicanos a sua vitória em Lisboa, tida como certa, mas garantindo 4 lugares para os partidos monárquicos, entre eles a presidência da Câmara.


Na sua perspectiva, a vitória dos republicanos em Lisboa, representava um risco mínimo, dada a fraca autonomia das câmaras municipais que, no caso de Lisboa, é agravada pela sua débil situação financeira.

A administração republicana seria, portanto, um fiasco garantido e, consequentemente, um mal de curta duração.


O Partido Regenerador de Júlio de Vilhena era mais objectivo, concebera um plano, para que mesmo ganhando em Lisboa o Partido Republicano, nunca conseguisse a maioria.

Como a vereação da Câmara era composta por 11 membros, ao partido maioritário nas eleições, davam-se 4 votos, às minorias (leia-se partidos monárquicos) 3 votos que votariam em sessões da Câmara ao lado de 3 vereadores indicados pela Câmara dos Deputados, não sufragados pelo voto e assim retirar-se-ia a maioria da vereação aos republicanos, eventuais vencedores.


D.Manuel não aceitou esta proposta, avisado por certo pelos seus conselheiros, para a celeuma que tal decisão traria, mantendo o seu apoio a Ferreira do Amaral, para que fossem efectuadas as eleições administrativas.


No dia 3 de Outubro, o Diário de Governo, publica um decreto que manda proceder às eleições das câmaras municipais no primeiro domingo de Novembro.

Na imagem>>> Comício republicano na avenida D. Amélia para apresentar ao governo a urgência na realização de eleições municipais em Lisboa, Joshua Benoliel, 1908-07-26, Arquivo Municipal de Lisboa, AFML - A4217

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O impossível apaziguamento


A polémica sobre as dívidas e o estabelecimento das verbas a atribuir à casa Real, bem como os quantitativos percentuais a estabelecer para liquidação da divida acumulada pela coroa, que a proposta do governo estimava que as prestações não deveriam ser inferiores a 5%, extravasou o parlamento, que o duelo entre Afonso Costa e Penha Garcia, anteriormente referido, mais acicatou os ânimos.

A proposta de Espregueira, o ministro da Fazenda, obteve contudo sempre o apoio do chefe do executivo Ferreira do Amaral, que o justificava junto de D.Manuel. A proposta governamental acabou por ser aprovada, no que às verbas da lista civil, diziam respeito e aos 5% anuais para pagamento das dividas.

Contudo a mesma sorte não teve o executivo, no que ao orçamento dizia respeito.

As ameaças dos regeneradores de Júlio Vilhena de retirar o apoio ao governo e as primeiras interpelações ao governo, sobre as investigações ao regicídio, e o apuramento dos responsáveis, eram agora as principais dificuldades que se deparavam ao executivo, bem como a crítica, do governo permitir que em Lisboa, se glorificassem os regicidas, com as peregrinações ao cemitério e ás suas campas.

Questão aliás, diga-se desde já, nunca foi possível determinar, para além dos esforços do governo, que chegou a contratar polícias estrangeiras, para proceder às investigações, mas ficaram por esclarecer quais os cúmplices de Buiça e Costa. Nem mesmo as investigações que decorreram envolvendo pessoas próximas do Partido Republicano, naturalmente os principais suspeitos.

Este malogro, seria um dos factores que levaria à queda do executivo de Ferreira de Amaral como se verá.

A legitimação da violência revolucionária, continuava a ser uma das bandeiras da República, que não deixavam de servir de contra-ponto à exigência dos partidos monárquicos, de esclarecimento de responsabilidades no regicídio. Como dizia António José de Almeida a bomba de dinamite em revolução, e em certos casos, pode ser tão legítima, pelo menos, como as granadas de artilharia, que não são mais do que bombas legais, explosivos ao serviço da ordem.



sábado, 9 de maio de 2009

A polémica proposta de Manuel Espregueira

Muito embora a comissão parlamentar constituída para analisar e apurar a questão dos adiantamentos feitos à casa Real que referi no anterior apontamento, não tivesse ainda apresentado as suas conclusões, o Ministro da Fazenda, Manuel Espregueira apresentou no Parlamento, uma proposta de lei em que tentava fixar a verba da lista civil, para a casa real.

Entre outras coisas o projecto preconizava que fosse atribuído à casa civil do rei, o valor de 1 conto de reis diário e ao seu tio o infante D.Afonso, a verba de 16 contos anuais, passando a manutenção das casas reais a ser feita pelo Ministério das Obras Públicas e as suas deslocações ao estrangeiro, bem como as despesas com a recepção a chefes do Estado em visita, a ser pagas pela Fazenda Nacional.

Também havia contrapartidas como a cedência do rei à fazenda nacional, dos palácios de Caxias, de Queluz e de Belém.

Claro que a discussão em torno desta proposta foi muito intensa sobretudo por parte da oposição corporizada pelos dissidentes e pelo republicanos, que justificavam a sua oposição à proposta por considerarem ser inoportuno discutir este assunto sem se saber os resultados da comissão de inquérito.

As discussões no parlamento, foram bastante violentas, até pelas revelações ali produzidas pelo próprio ministro, a propósito de algumas situações que aconteceram no passado, com adiantamentos que tinham sido efectuados pelo próprio,(e não só), noutras passagens que tivera à frente da Fazenda Nacional.

A polémica extravasou o Parlamento, passando para a imprensa, que viria a demonstrar que esta história dos adiantamento à casa Real, se alargava ao próprio campo da oposição, mostrando o comprometimento de todos, nesta questão incluindo republicanos e franquistas. A reacção no Parlamento de Afonso Costa apontando os nomes de todos os implicados, mas de forma tão agressiva, acabou por levar a um duelo com o conde de Penha Garcia, um dos visados.

Sobre este acontecimento, leia-se o que o poeta e jornalista Alberto Bramão descreveu no seu livro Faulhas dum Lume Vivo, publicado em 1945 postumamente, pela sua viúva

...tanto calor pôs na veemência das suas ideias (Afonso Costa) e das suas palavras, que entrou pela agressão ofensiva da dignidade dos homens que formavam os Partidos da Monarquia.

O conde de Penha Garcia estava no seu lugar de deputado; levantou-se serenamente aproximou-se do orador e disse-lhe baixinho, sem alarde, de forma que só foi ouvido pelos que estavam ao pé do orador:

- Quem assim desconsidera a honra alheia, não pode prezar a honra própria.

Afonso Costa suspendeu o discurso para responder isto simplesmente:

- Logo falaremos.

E continuou a interrompida diatribe até prefazer a hora regulamentar de oratória, incluindo os quinze minutos de tolerância.

Terminado o discurso, Afonso Costa constituiu os seus padrinhos para tratarem do duelo.

Mas, aqui começou a inquietação nos arraiais políticos, principalmente quando o chefe republicano declarou que escolhia para o combate a espada francesa.

A escolha foi considerada um acto de extraordinária coragem da parte dum homem que em esgrima era um mero aprendiz e que sabia ser o conde de Penha Garcia campeão nessa arma.

O sobressalto foi geral, nos dois campos monárquico e republicano.

Se Afonso Costa fosse mortalmente ferido, os aguerridos grupos populares, que o consideravam o mais vigoroso propagandista da ideia republicana e o chefe indispensável para derrubar a Monarquia, haviam de propalar que ele tinha sido assassinado e daí era natural desencadear-se a revolução que todos sabiam preparada para a primeira oportunidade.

Os republicanos temiam a perda do seu vigoroso líder e os monarquistas temiam as consequências tumultuosas que desse facto resultariam sem dúvida.

Houve então sobressaltadas intervenções para reduzir ao mínimo a gravidade do duelo.

O conde de Penha Garcia, não só porque no seu elevado espírito havia a consciência do que podia resultar, mas também porque não era homem para rancores, resolveu fazer todo o possível para se limitar a ferir levemente o seu adversário, de forma a cumprir apenas a formalidade que a honra impunha, sem resultado grave.

Foi-lhe, porém, difícil a realização deste propósito, porque Afonso Costa atacava com violência desvairada, atirando-se contra o antagonista, de forma que só pela serena perícia de Penha Garcia é que foi possível evitar uma desgraça, tendo terminado a contenda com um pequeno ferimento no braço do caudilho revolucionário.

Este desfecho acalmou a grande tempestade política que já se estava formando.

Reconheceu-se o procedimento generoso do mestre de armas que não quis valer-se da sua superioridade sobre o aprendiz impetuoso. Este também não sofreu humilhação, porque procedeu com nobilitante coragem e altivez.

Ficou, portanto, adiada a revolução que pouco depois proclamou na Rotunda o regime republicano.




terça-feira, 14 de abril de 2009

De novo a questão dos adiantamentos à Casa Real

A questão dos adiantamentos à casa real, era muito antiga e tinha alcançado especial pertinência no reinado de D.Carlos sendo uma das causas mais agitadas pelos Republicanos, como responsável pela grave crise económica e financeira que o país atravessava e que as tentativas de João Franco, para regularizar, ainda agravaram mais a crítica ao despesísmo real.

D.Manuel consciente desse problema, jogo que o governo tomou posse escreveu a Ferreira do Amaral, dando-lhe a conhecer os seus intentos sobre essa matéria, dizia-lhe "Devendo as cortes , nos termos do artigo 80º da Carta Constitucional fixar, no princípio de cada reinado, a dotação do Rei, e , desejando eu que o Parlamento, esteja inteiramente livre de toda a indicação, para resolver o assunto, é eu firme propósito que a Fazenda da Casa Real, não utilize recursos, que não tenham sansão parlamentar".

Brito Camacho, republicano e director do jornal a Luta, orgão do partido Unionista, de que era lider, foi o primeiro deputado a levantar a questão, como era esperado, exigindo que fosse criada uma comissão parlamentar, para apurar a dívida da Casa Real ao Tesouro.

Assim aconteceu, com a aprovação do governo foi constituída a referida comissão, tendo Domingos Peres como relator, secretariado por João Ulrich. O núcleo de investigadores era vasto, contando com António José de Almeida, Eduardo Burnay,Anselmo Vieira, Pinheiro Torres entre outros.

Este inquérito deveria dar resposta aos seguintes pontos, despesas com viagens, em Portugal e no estrangeiro, custo das recepções a chefes do Estado de outros países, obras efectuadas nos paços reais, despesas com os iates Amélia, Sado e Maria Stela. Levantamento este que deveria ser feito desde 1890.

Ao mesmo tempo exigia que fosse feito um levantamento dos bens da coroa e qual fora o destino de alguns que tinham sido alienados, sem autorização da câmara, bem como o quantitativo dalgumas rendas de edifício nacionais, indevidamente recebidas.

segunda-feira, 30 de março de 2009

A reabertura das cortes e aclamação do Rei

No dia 6 de Maio de 1908, voltaria D.Manuel II ao Parlamento, para em dia de grande gala, ser finalmente aclamado com rei e Portugal. Havia algum temor, perante a possibilidade dum novo atentado, razão porque se manteve sempre o povo afastado do Palácio de São Bento.

O rei em uniforme de generalíssimo, jurou após ter tomado assento na cadeira régia ,"manter a religião católica apostólica romana, a integridade do Reino, observar e fazer observar a Contituição Política da Nação Portuguesa e mais leis do Reino e prover ao bem geral da Nação, quanto em mim caiba", reiterando igualmente o juramento que fizera em 1 de Fevereiro, pedindo para isso a ajuda de Deus.

A figura de D.Manuel II, foi sempre muito grata ao povo, por força da sua simpatia, a que não era alheia, o facto de ser muito jovem e de excelente presença. Razão porque depois da aclamação, quando se retirava de São Bento ao dirigir-se à sua carruagem, a multidão vencendo o cordão militar que rodeava o local, rodeou o coche real saudando-o em jubilo.

Após ter chegado ao Paço, o rei assomou á janela do palácio para agradecer os aplauso da multidão. Por razões de segurança, não fora como era tradicional à Câmara Municipal de Lisboa, depois de aclamado, mas acabaria por receber no Paço, as homenagens populares.

4 dias antes, na abertura das cortes, havia decorrido o juramento dos deputados, com a curiosidade de saber qual iria ser o comportamento dos republicanos, que haviam reforçado a sua representação. Pela voz de Afonso Costa, tinha ficado claro, que se comprometiam a fazer única e exclusivamente ao país, colocando os seus interesse à frente dos interesses do Partido.

Anunciavam presseguir os intuitos de acalmação da vida política, mas na realidade não ira ser assim, também porque os assuntos em carteira, não facilitariam um entendimento "p
acífico".

Um pequeno filme sobre este período





domingo, 15 de março de 2009

As eleições de 5 de Abril de 1908

O período eleitoral que antecedeu o acto eleitoral foi muito intenso, multiplicaram-se os comícios republicanos onde excelentes oradores como António José de Almeida ou Afonso Costa entusiasmavam os oradores.

A lista do Partido Republicano Português incorporavam um série de políticos de nomeada como Teixeira de Queiroz, Agusto de Vasconcelos,Alexandre Braga, João de Menezes, Bettencourt Raposo, José Relvas, João Chagas entre outros. Pelo lado monárquico Calvet de Magalhães, Augusto de Castilho, Eduardo Burnay, Alfredo Le Coq, eram alguns dos nomes que engrossavam as listas apresentadas pelo governo.

No dia 5 de Abril, o dia das eleições foram marcadas por violentos confrontos nas ruas de Lisboa, como por exemplo o que aconteceu no Largo de S. Domingos, a partir das desconfianças que foram levantadas acerca da guarda da urna. onde as escaramuças dos populares contra as forças da ordem, acabaram por resultar em 14 mortos e um numero bastante elevado de feridos, devido à carga das forças militares de Infantaria 5 e de Cavalaria 4.

Ficaram marcadas com sangue as primeiras eleições num tempo que se queria fosse de acalmação política.

Como se previa os resultados foram para 693 424 eleitores no Continente e Ilhas e 450 260 votantes no Continente e Ilhas, os seguintes :

Regeneradores -63 deputados.
Progressistas-59 deputados
Amaralistas-(apaniguados de Ferreira do Amaral)-15 deputados
Republicanos-7 deputados.
-Por Lisboa, António José de Almeida, Alexandre Braga e João de Meneses.
-Por Setúbal, Estevão de Vasconcelos e Feio Terenas.
-Por Évora, Brito Camacho.
Dissidentes progressistas-7 deputados
Franquistas-3 deputados
- liderados por Vasconcelos Porto, Martins de Carvalho e Malheiro Reimão.
Nacionalistas-1 deputado

O resultado obtido pelo partido republicano, foi o melhor de sempre,a tendendo ao número de deputados que até então tinham conseguido.

As corets abriram no dia 29 de Abril com a presença do rei, que perante os parlamentares que o aplaudiram vibrantemente leu o discurso da coroa, como sempre preparado pelo governo e que apresentava um programa de reformas que apresentava os principais temas que se iriam discutir na sessão legislativa iniciava.

  1. Aprovar e fazer votar o orçamento de 1908-1909
  2. Rever os decretos da ditadura
  3. Resolver a questão dos adiantamentos e da lista civil
  4. Propor a revisão da Carta Constitucional
(Os dados referentes ás eleições foram extraídos de informação disponível do prof. Adelino Maltez)




terça-feira, 3 de março de 2009

I Congresso Nacional do Livre Pensamento

Em Abril realizou-se o I Congresso Nacional do Livre Pensamento em Lisboa. Um grupo de não católicos à semelhança de muitos outros como a Maçonaria, intitulavam-se sem religião e tinham como objectivo fundamental o combate ao clericalismo, e consequentemente às ideias que resultavam desse princípio religioso.

Um dos aspectos mais proeminentes era o das reivindicações feministas, que aparecem pela primeira vez em destaque e de forma sistematizada neste congresso em Abril de 1908

Nele esteve presente uma importante delegação feminina, composta por Adelaide Cabete, Amélia Levy de Sousa Lobo, Ana Maria Gonçalves Dias, Judite Pontes Rodrigues, Lucinda Tavares, Maria Clara Correia Alves, Maria Veleda, Carolina Beatriz Ângelo, entre outras, onde se preconizava "reconhecimento da absoluta liberdade da mulher, com relação ao exercício de todos os direitos individuais, civis, políticos e profissionais" e se exigiu a educação intelectual, moral e física da mulher, o direito a ter uma profissão, que a habilitasse a "lutar contra a prostituição e a miséria, chegando a ser defendido o amor livre e condenado o casamento tal como era então concebido e praticado.

O núcleo central era formado por médicas todas elas de tendência republicana e maçónica como era o caso de Beatriz Ângelo que com Ana Castro Osório, Adelaide Cabete e Maria Veleda, as lideres e companheiras no Grupo Português de Estudos Feministas, que mais tarde, transitarão para a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, que começavam a dar forma igualmente às primeiras reivindicações "organizadas" do direito ao voto ainda que apenas para uma minoria.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Amnistias e marcação de eleições

As tentativas de D.Manuel para prosseguir a política de acalmação, prosseguiram logo no dia 6 de Fevereiro, publicando um decreto anulando a lei de Imprensa de João Franco, pelo que aconteceu de imediato o reaparecimento dos jornais suspensos Diário Popular, Liberal, O Dia, O País, Correio da Noite, tendo o governo decretado também uma extensa amnistia, que além de abranger a libertação dos marinheiros implicados nas insubordinações ocorridas a bordo dos navios de guerra em Abril de 1906, também abrangeu os implicados no golpe falhado de 28 de Janiero.

Após a tomada destas medidas, com a tomada de posse dum governo de equilíbrio entre as forças políticas monárquicas mais importantes, o afastamento de João Franco que havia partido para o exílio em Espanha, logo no dia 5 de Fevereiro, parecia estarem tomadas as medidas principais mas faltava um passo para voltar à normalidade constitucional, as eleições.

Nesse sentido o Conselho de Estado de 27 de Fevereiro deliberou dissolver as Cortes e marcar novas eleições para o dia 5 de Abril.

Acalmação sempre difícil quando se fala de eleições e de lugares no parlamento, que dsde logo motivou as discórdias habituais entre os chefes dos partidos e o governo.

Ferreira do Amaral convida Miguel Bombarda conceituada figura como director de Rilhafoles que aceita, para integrar as listas mas como deputado independente pelo circulo de Aveiro. Este convite e os esforços que Ferreira do Amaral intentou, para incluir nas listas de deputados os apaniguados de José Maria Alpoim, para muitos um dos implicados como instigador no regicídio, foram as acções mais controversas do chefe do governo, para conseguir, que o acto eleitoral e o parlamento que dele resultasse, obtivesse um amplo consenso e sobretudo a tão desejada acalmia política

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Os funerais de D.Carlos e D.Luís Filipe


Nos dias que seguiram ao regicídio, o ambiente que se viveu no País, foi naturalmente de grande bipolarização e emoção. Por um lado os apoiantes do regicídio, leia-se republicanos, anarquistas e todos os que se tinha manifestado , contra o rotativismo e a monarquia constitucional ou não. Por outro os monárquicos, que clamavam por justiça e para que fossem acusados os que diziam ser os instigadores do crime, nomeando expressamente, Afonso Costa, Alpoim e Ribeira Brava.

Foi neste ambiente que decorreram os funerais, tendo o povo acorrido em massa as ruas, por curiosidade que as cerimónias reais sempre despertavam.

O cortejo fúnebre, decorreu entre o Palácio das Necessidades e a Igreja de São Vicente de Fora, entre as habituais honras militares e a presença de representantes das coroas europeias e das figuras da vida pública e privada portuguesa.

O serviço fúnebre foi presidido pelo cardeal-patriarca D.António Mendes Belo.

A urnas ficaram expostas na Igreja de São Vicente durante dois dias, para as últimas homenagens e no dia 10 de Fevereiro, deu-se a transladação para o Panteão Nacional, onde ficaram sepultados.


A Renascença apresenta um filme inédito do funeral do Rei D. Carlos,
Agradeço a eurotracker a publicação deste pequeno filme.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

O primeiro governo de D.Manuel II

Logo no dia seguinte ao regicídio, por sugestão de João Franco, reuniu-se o Conselho de Estado no Palácio das Necessidades.

Como seria de esperar o jovem rei, estava extremamente abatido e na alocução que dirigiu aos conselheiro, chamou a atenção para o grave momento de violência que tinha acontecido e para a necessidade dum entendimento entre as duas principais forças políticas regeneradores e progressistas.


Luciano de Castro o mais antigo conselheiro e líder do Partido Progressista, propôs a formação dum governo, constituído em paridade partidária entre ambos, mas presidido por um independente, não deixando de salientar que o facto do governo o ter feito em ditadura, terá precipitado os acontecimentos.


Júlio de Vilhena o lider Regenerador anuiu à vontade do Rei, e os restantes conselheiros também estiveram de acordo com essa solução.

A João Franco, claramente sem apoio, nem voto na matéria, não lhe restou mais do que apresentar a sua demissão a D.Manuel II.


Para chefiar o novo executivo foi escolhido o nome de Joaquim Ferreira do Amaral,
que logo em 4 de Fevereiro, o apresentou ao rei.

Para além de si próprio, que também assegurava a pasta do Reino além da Presidência, Ferreira do Amaral apresentou a seguinte elenco, nas condições de paridade exigidas, equilíbrio entre Regeneradores e Progressistas, acrescentando a nuance de incluir dois independentes, que lhe estariam próximos
  • Campos Henriques (Regenerador) na Justiça
  • Manuel Afonso Espregueira (Progressista) na Fazenda
  • General Sebastião Teles (Progressista) na Guerra
  • João de Sousa Calvet de Magalhães (Independente) nas Obras Públicas
  • Almirante Augusto de Castilho (Independente) na marinha e ultramar
  • Wenceslau de Lima (Regenerador) nos Estrangeiros
Com entrada em vigor deste governo, afastava-se a ditadura franquista, retomando-se o cariz monárquico-liberal apoiada pelos partidos da Rotatividade.

Pareceria indicar, que o caminho seria o do apaziguamento da sociedade, mas os mais críticos viram desde logo indício do retomar de antigos vícios.

Governo dito da acalmação logo
  • em 5 de Fevereiro revoga alguns dos diplomas franquistas, como a lei de imprensa e o decerto de 31 de Janeiro.
  • No dia 6 reaparecem os jornais suspensos: Diário Popular, Liberal, O Dia, O País, Correio da Noite e são libertados António José de Almeida, Afonso Costa, Egas Moniz, João Chagas e França Borges que estavam presos desde os acontecimentos relacionados com a revolta de 28 de Janeiro.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A primeira proclamação ao País

Depois do atentado os corpos de D.Carlos e do príncipe Luís Filipe, foram transportados para o Palácio das Necessidade, para onde já tinham seguido as rainhas D.Amélia e D.Maria Pia e o ainda infante D. Manuel já tinham seguido anteriormente.

Com extremos cuidados, por se não saber a extensão da rebelião, foram chegando ao palácio, alguns ministro e o próprio chefe do governo João Franco, que levava um documento que apresentou á rainha D.Amélia, tratava-se duma proclamação ao país, que o novo rei devia assinar.

Nessa proclamação D.Manuel afirma

" ...que sabe que a Nação compartilha a minha dor e detesta indignada o crime horrendo, sem precedentes na história portuguesa.

.. Nesta desventura e de acordo com a Constituição Monárquica, sou chamado a presidir aos destinos do reino.

... Juro manter a religião Católica e apostólica romana e a integridade do Reino observar e fazer observar a Constituição Política da Nação Portuguesa e mais leis do reino e prover ao bem geral da Nação quanto em mim couber e prometo ratificar em breve este juramento nas Cortes Gerais da Nação Portuguesa, Outrossim me apraz que os actuais ministros e secretários de Estado continuem no exercício das suas funções.

Foi a primeira vez que D. Manuel II traçou a sua assinatura de rei.

Acabara de rubricar esse documento um jovem rei com apenas 19 anos e não estava planeado assumir o trono. Era um jovem estudioso que preparava na altura a sua admissão à Escola Naval. Sossegado e estudioso, teve de interromper os seus estudos para assumir o trono, em circunstâncias de extrema dificuldade.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Os regicídas-Os autores materiais



Quem eram os regicidas, que a 1 de fevereiro de 1908 tinham tirado a vida a seu pai D.Carlos e a seu irmão do Terreiro do Paço ?

Ao longo da história dos regicídios que tinham acontecido pelo menos ao nível europeu, várias tinham sido as motivações, desde anarquistas isolados, porque não suportavam a ideia do Estado, simples lunáticos, ou idealistas radicais.

No caso português em 1908, as primeiras horas foram de hesitação, entre iniciar o processo de investigação, ou simplesmente atribuir o caso a uns tipos desequilibrados sem ligações políticas, portanto não se tornava necessário qualquer tipo de investigação.

Como a opção seguida, acabou por ser esta segunda tese, o facto é que durante anos, foram acontecendo notícias ao acaso, insinuações a granel por um lado ao sabor das circunstâncias, ou baboseiras de outros que insinuavam a sua participação.


Sobre a autoria moral, não restaram dúvidas, o "homem da barba preta", Manuel dos Reis da Silva Buiça e o "homem do estribo" Alfredo Luís da Costa, assim referenciado na altura, quando se havia "determinado" que o primeiro havia sido o que matou o príncipe Luís Filipe e o segundo o Rei D.Carlos.

Mais tarde, exames periciais, apuraram que Manuel Buiça tinha afinal matado os dois.

Manuel Buiça era um transmontano de Vinhais, com 32 anos, era filho de um padre e tinha sido segundo-sargento de cavalaria e instrutor de tiro em Bragança. Sendo na altura professor de instrução primária no Colégio Nacional em Lisboa.

Alfredo Costa tinha 23 anos, alentejano, nascido em Castro Verde, sobrinho dum comerciante de Lisboa, trabalhara com caixeiro em várias lojas da capital.
Tinham em comum, serem os dois repubicanos convictos, como atestou Aquilino Ribeiro, amigo de ambos.

Supõe-se que ambos eram maçons com actividade irregular, fora do Grande Oriente Lusitano.

Idealistas, acreditavam participar num movimento de transformação do Mundo, causa pela qual valería a pena morrer.


Não pode contudo, aceitar-se como verdadeiro, que tenham agido isoladamente. Aquilino Ribeiro viria a assegurar mais tarde que cada um deles chefiava um bando de cerca de 20 homens que se prontificavam a tomar parte em acções especiais.


Muita gente foi detida para averiguações, logo no dia do regicídio, mas todos tiveram que ser soltos por falta de provas.

Os dois regicidas foram de imediato abatidos