- O caso do Crédito Predial Português
Ainda o caso Hilton estava quente, quando no dia 1 de Maio foram reveladas graves irregularidades na Companhia Geral do Crédito Predial Português, pois desde 1905 corriam rumores de falência.
Por aquela instituição tinham passado muitos políticos dos dois partidos monárquicos e que tal como na vida política tinham passado em rotativismo pela direcção daquela instituição.
As irregularidades apontavam para a falência, correspondendo ao facto das verbas do activo não cobrirem o passivo, entre outras questões relacionada com a emissão excessiva de obrigações.
A imprensa, nomeadamente a republicana dava eco à situação. O ministério de Veiga Beirão não estava directamente envolvido apenas o seu ministro da justiça Artur Montenegro, pertencia ao conselho fiscal e até José Luciano de Castro o líder progressista era governador desta instituição bancária.
O guarda-livros Oliveira Quintela acabou por confessar como falsificara as contas do banco, para disfarçar a sua longa decadência, exagerando e emissão obrigacionista e falsificando os próprios resultados, para mascarar prejuízos
Para salvar a instituição agora só restava um empréstimo do Banco de Portugal, mas esse empréstimo acabou por ser negado. O que consistia um grave revés para o governo, atendendo a que a sua constituição fora patrocinado por Luciano de Castro o chefe progressista e também governador do Banco.
Por esta razão o governo não queria que o assunto chegasse ao parlamento na sua reabertura, tentando um acordo entre regeneradores e progressistas, que não viabilizaram o que Veiga Beirão pretendia.
- Congresso Republicano no Porto
Teve eco na imprensa a realização do congresso ordinário do Partido Republicano na Associação Comercial da cidade do Porto.
Não deixaram de marcar presença José Relvas, Afonso Costa, Eusébio Leão, Duarte Leite, Bernardino Machado, António José de Almeida e Alfredo de Magalhães.
“À medida que se acentuam os sintomas duma transformação, tão próxima já, que o velho edifício político se disjunta de momento para momento, crescem de importância as reuniões democráticas desta natureza. (…)
Porquê? É que outrora o Partido Republicano limitava-se a abalar, a bater de frente, a pretender arrasar essa instituição secular que ele sentia ser nefasta ao engrandecimento do País. A sua obra era de destruição, embora em nome da salvação da Pátria portuguesa. (…)
À obra de destruição foi preciso juntar, portanto, a obra de organização partidária, que veio a ser a base da sua acção reconstrutiva. (…)
Estabelecer enfim as bases, por assim dizer, de um Portugal novo é a obra superior dos congressos. O do Porto, que hoje se inaugura tem, por tudo isto, um interesse especial.” Apresentando-se como o “prenúncio feliz da vitória definitiva da Democracia e da Liberdade.”
Assim se referia o O Século nº 10 191, 29 de Abril de 1910, p. 1.
ou ainda
Guerra Junqueiro, que presidiu à sessão de encerramento, resumiu no seu discurso as principais ideias debatidas ao longo do congresso, afirmando que “em Portugal, a questão política é aquela de que dependem todas as outras questões. Só a República pode salvar o País; a monarquia condu-lo totalmente à ruína (...).
Há monarquia e monarquias, como há repúblicas e repúblicas (...).
A nação portuguesa não pode ter esperança na monarquia. Uma monarquia recomenda-se pelas duas dinastias e estas pelo seu valor histórico e pelo seu valor individual. A dinastia que produza uma série de Reis com acção política de benefícios, desperta no país sentimentos de gratidão, e por isso se conserva. A dinastia não dá esse fruto, e a dinastia desaparece. E como é a dinastia actual? A dinastia de Bragança, disse-o Oliveira Martins, é uma dinastia de loucos e de maus. (...) E é por isso que o povo português só pode ter esperança no partido republicano, que não é um partido, mas a aspiração funda da nacionalidade.”
Fonte: O Século nº 10 193, 2 de Maio de 1910, p. 3.
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